sábado, 4 de setembro de 2010

I hate flash!

Se moda é o que importa, então on y va ? Vamos juntar tudo o que gostamos : a arte, a fotografia, a bebida, o sexo, a droga, a lorota e até o flash. Por que não o flash ? Gostamos ? Ah ! É verdade, não gostamos. Mas as coisas mudam, e o que parecia ser out of planet começa a ficar cool por conta de uma nova representação. E assim continuamos contando a história através do pictórico.

Eu estou falando dos « I hate flash », uma galera super antenada que começou fazendo fotos de festas por diversão (nossa ! assim como eu no primeiro ano de faculdade) e agora estão mega requisitados no circuito fashion-arte-money-fucking-I’m Famous.

Quer saber o que a galera está vestindo nas baladas (será que ainda se fala assim ?), então vá agora dar um coup d’œil no site destes fotógrafos com uma visão estética bem colorida. As fotos parecem um ensaio fotográfico de revista de moda. É super.

Eu sei, eu sei, eu estou um pouco afetada hoje pelos signos da moda. É natural, estou há 3 horas lendo a Vogue. Whatever ! We love fashion, yeah !


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ça c'est vraiment toi - Téléphone


Depois de « Ça m’enerve », « Ça, c’est vraiment toi » do Téléphone é minha música favorita em francês. Dá muita vontade de dançar. É um pouco americanizada, mas ao seu modo passa a energia da juventude francesa dos anos 70/80. E de qualquer forma, que país não sofre graves influências do bom rock americano dos anos 70 ? Não há mal algum inspirar-se no que é bom. É por ser eletrizante que deixo a dica de ça.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Milhazes de dólares

E se for medo ? Eu poderia dizer que sim. Eu estou há dois dias devastada pelos meus medos, furiosa por uma possibilidade de falha. Por fim, pergunto-me : e qual é a diferença ? O que me trará realmente a glória ? E o mais importante : o que é a glória ?

Debato-me entre mundos avessos, entre discursos homólogos, vejo-me presa em descrições que nem sempre têm nada a ver com o real sentido daquela dialética. E causa-me até ira. São jogos, são politicagens. São políticas. A mesma política que fez da narrativa algo secundário, da arte algo banalizado e de todos os sentimentos algo fragmentado.

Na realidade, eu apenas gostaria de saber o conceito inicial da criação. Deixe-me ser mais clara. É como o cinema e a pintura. O cinema já foi feito para ser reproduzido, e este é seu conceito inicial. A pintura, não. É algo divino e divinizante, é puro e cruel. É sublime tal como um limão. Ou uma laranja. Então qual será a glória de cada um ?

Eu fico triste em ver « artistas » conversando com conceitos estranhos ao seu universo, ganhando milhazes de dólares por elementos gráficos e esquecendo-se do pictórico. E tornam-se divertidos e fofos, tal como a Sandy, o Faustão e a Xuxa. E o pior é ouvir « eu sou uma artista bem sucedida ».

Apenas três letras para esta frase : W T F.

Este discurso é excelente para um advogado, para um economista e até para um designer que já formula sua criação como algo reprodutível e economicamente viável.

Confesso que esta análise deixou-me doente, com dor de barriga e dor de cabeça. Perdi meu domingo, minha carne apodreceu na bancada e eu perdi a Callas.

Eu realmente não quero convencer-me de que ser artista é ser bem sucedido (R$), pois se este episódio acontecer, será o mesmo que dizer que minha vida foi em vão, que tentar entender milênios de história foi obsoleto, que todo o sentimento do universo não teve narrativa e que eu me resumo em um cheque pré-datado. Eu não admito isso e se ainda existe algo em que eu acredite, é a arte. É o que me resta, é minha redenção.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Parole Parole de Dalida

Todas as mulheres conhecemos as promessas. E bem gostamos delas, algumas deixam repousar sobre o coração e outras já sabem que este vento leva para longe também nossos planos. Eu gosto de ver a brisa passar, de ler palavras de amor, de me recompensar pelo árido mundo. Elas fluem e depois padecem pela mesma causa das quais nasceram. É tudo tão étereo e fugaz. Papo besta, o meu. Mas quando ele vier dizer tudo aquilo novamente, diga apenas Parole Parole Parole. E você sairá de fina e elegante que é, pois ninguém conhece melhor as engrenagens do amor como os italianos e os franceses. E por este motivo eu indico Parole Parole da Dalida. À todas aquelas mulheres que como eu têm medo de ganhar flores. Depois explico o porquê.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Maria Callas - Habanera de Carmen Bizet

Ópera para mim era algo estranho, fora da minha atmosfera. E graças à série Callas e Onassis do GNT, eu pude ter o prazer de conhecer esta arte tão poderosa que localiza-se entre o tempo e o espaço. É poesia cantada, é pintura dançada, é sobretudo, sublime. É por estas e outras razões que ainda não sei descrever, que indico Maria Callas. Dentro do meu empirismo lúdico, fico com Habanera de Carmen Bizet.

Canal: GNT

Horário: Domingos às 23h

Amalia Giacomini - vazio inventado


Hoje fui à Itaipava, aquela da infância distante, do jardim gramado, da piscina-Cazuza, da sinuca-streape-tease, da lareira-pitoresca, da boêmia-Circo Voador. Não da minha, mas de meus pais. Andei bastante e não cabiam as ruas. E sempre sobrava uma e mais uma e mais uma e outra assim. Na verdade, não era Itaivapa, era a rua João Borges na Gávea.

Exposição : Amalia Giacomini – vazio inventado

Galeria : Mercedes Viegas | Arte Contemporânea

Local : Rua João Borges, 86, Gávea, Rio de Janeiro

De 2 a 28 de agosto de 2010

Cheguei à porta da galeria, e não havia placa e nenhuma indicação. Respirei fundo e apertei o interfone. Minha voz tremeu um pouco, galeria sempre representa o medo da rejeição. Seremos bons o suficiente para adentrar aquele espaço? O melhor é não pensar, e entrar logo. Fui apresentada à Mercedes Viegas. Ela deixou-me muito à vontade. E a partir de então, pude fluir.

Olhei as peças e não entendia. Buscava e buscava e não entendia. Resolvi ceder espaço ao tempo. Bem devagar, comecei a sentir remorso, abandono, uma solidão controlada, algo sutil, e até mesmo bom. Como se eu visse alguém partir, deitada, jogada no chão e dali pudesse ver apenas as linhas do assoalho.

Mas depois, não aguentei e sai correndo. As linhas horizontais tornaram-se as linhas do muro. As setas no chão indicavam o caminho, caminho do corpo, corpo este preso, amarrado por pontos certos, ferindo a carne, puxando e esticando, buscando ser jovem novamente.

É aéreo, vejo além. E criam imagens-cores do além, além-ser, além-montanha, além-pensamento. Bem depois do que se poderia seguir, indicando o lugar, este lugar nenhum. Lugar meu, de todos, do meu coração, do meu corpo sem fim no seu espaço sem limites com limites, sem vasão me invadindo, evasivo. Discutindo o meio, a áurea, a alma, fecho com rigor. Deixo para trás meu campo pictórico de um espaço virtual e vou embora. Cerro a janela e fujo. Deito no chão e vejo você partir, sem caminho, sem destino. Adeus!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

5x Favela, Agora por nós mesmo


Passei argila no rosto, fui para a cozinha fazer um misto quente, coloquei um grande copo de açai. E sentei no sofá para ver um pouco de tv. Estava começando Starte, um programa bem cultural no canal GNT.

O assunto de hoje era o filme 5X Favela, Agora por nós mesmo, com 5 episódios. O mais pertinente para mim foi a retórica peculiar de Luciana Bezerra que dirigiu o quinto episódio do filme. Ela encantou-me e fez nascer em mim uma vontade delirante de assistir ao filme. A forma como argumentou sobre a questão do filme de favela foi surpreendente. A favela é sim o pano de fundo, e estará sempre dentro dela, pois ela é favelada. E foi lindo ver a forma como ela apresenta esta questão delicada com força incrível.

Nota breve : quero conhecer todos os trabalhos de Luciana Bezerra, já estou fan.

Para saber mais, acesse : http://www.5xfavela.com.br/

Dia 27 de agosto nos cinemas.

sábado, 21 de agosto de 2010

Estudos do Plano no Parque Lage

Rocinha - cotidiano e arquitetura


Artes plásticas ou fotografia ? Qual é a fronteira obscura que doa título de obra de arte a um objeto ? E quando estas fotografias retratam algo que todos podemos ver com nossos próprios olhos ? Que tipo de predicado poderíamos atrelar ao voyeur quando este torna-se servo e senhor de sua própria obra?

Eu nem mesmo pensava sobre estas indagações ao passar pelas portas suntuosas do Centro Cultural da Justiça Federal no centro do Rio de Janeiro. Eu ainda estava embriagada de Canale, e não esperava de forma alguma ser puxada tão bruscamente para a realidade atordoante e caótica de minha própria cidade.

Exposição : Rocinha – Cotidiano e Arquitetura

Fotografia: Rodrigo Queiroz

Curadoria : Marco Antonio Portela

Local : Centro Cultura Justiça Federal – Rio de Janeiro

De 10 de agosto a 26 de setembro de 2010

Entrei na pequena sala onde estavam as fotografias da exposição da Rocinha, e não sabia qual ver primeiro. Eu queria lambê-las com os olhos. De forma bizarra, eu senti prazer em observar aqueles cortes vertiginosos, em chegar mais perto para compreender, em olhar os monóculos com as pequenas fotos lá no fundo. Era como observar, espiar, desfragmentar a realidade. E hoje, chegar perto destas imagens é algo fugidiço. Acordei tarde e soube do tiroteio em São Conrado. Se podemos ver com nossos próprios olhos aquelas imagens ? Receio que não. Na época em que as fotografias foram feitas, o próprio fotógrafo tinha que pedir permissão para subir o morro. Hoje em dia ? Não há permissão.

Por vezes, recebia a notícia, após horas aguardando a pessoa que o acompanharia, de que aquele dia não seria possível subir. Era servo de sua obra. E insistiu, voltou outras vezes, aguardou, resistiu. Entretanto como captar a essência daquelas pessoas, o espírito, aquilo que não podemos ver a olhos nus, se estas ficavam receosas com a lente do fotógrafo ?

Rodrigo Queiroz resolveu que seria necessário tornar-se parte do lugar, fazer com que todos acostumassem-se com sua presença. E assim fez ao ficar um ano imerso neste projeto. « Eu nunca pedi nada pra ninguém. » disse o fotógrafo referindo-se à espontaneidade de seus personagens e sendo senhor de seu olhar.

Entre subidas e descidas, descobriu o som do lugar, que pode ser ouvido em sala contígua à sala principal. O som tal como a cor é o alívio da alma, a redenção do corpo, o ópio inebriante dos pensamentos.

A Rocinha é mutante, cada dia acorda e dorme de um jeito. E Queiroz conseguiu captar esta energia empregando tratamentos diferentes às fotografias, algumas preto e branco, outras em sépia, muitas com alto nível de saturação, indo de encontro ao pensamento bressoniano de que a fotografia tem fim no seu ato.

E ao final deste árduo trabalho, Rodrigo Queiroz conseguiu atravéz de um plano pictórico caótico declarar a sua visão daquele mundo oculto, daquela cidade autosustentável onde tudo é reaproveitado e transforma-se, até os sentimentos que vão, ao correr do tempo, de indiferença a compreensão, de medo a compaixão. E ficamos ali extasiados com a profundeza do tema, de moças fazendo as unhas, de pessoas vendo televisão, de crianças jogando bola, costureiras, tudo tão normal, tão real retratados em diferentes proporções.

Se Gombrich me permite, farei de suas palavras as minhas :

« Falar com argúcia sobre arte não é difícil, porque as palavras que os críticos usam têm sido empregadas em tantos contextos diferentes que perderam toda a precisão. Mas olhar um quadro com olhos de novidade e aventurar-se numa viagem de descoberta é uma tarefa muito mais difícil, embora também mais compensadora. É incalculável o que se pode trazer de volta de semelhante jornada. »

Com um pouco de inveja, digo que o maior deleite ainda é do próprio fotógrafo. E a exposição foi uma singela degustação. E agora ficamos, pacientes, aguardando o livro que será o grande fruto, para então podermos refazer os passos de Rodrigo Queiroz nessa perigosa e satisfatória jornada pelo cotidiano e arquitetura da Rocinha.


* fotografias cedidas gentilmente por Rodrigo Queiroz.

Tempo esparso

Eu não sei bem em qual tempo vivo, gostaria que alguém me situasse no tempo e espaço. Alguém para fazer-me uma genealogia aceitável, descobrir minha arte e tocar meu espírito. Desse tempo, desse tempo, frui o vento, passa o tempo. Nasce a roda, fica o movimento, assim, guardado entre lençois sujos de tempo esparso.

Vou para a cozinha, selo uma carne, sinto o aroma. Eu já faço isso há décadas. O gelo derrete no copo de wisky e os legumes já estão no ponto. Ups ! Esbarrei no shoyo, derrubei. Bad love’s acontecem de tempo em tempos. Já está na hora de surgir o próximo. O atual, o próximo, o atual. Vertigem. Tenho vertigens. Não sei se é o Renascimento, ou então o Maneirismo. Na verdade é gótico, é cheio de decorações esse amor. Ai, meu Deus ! Não quero ver o mundo através de seus olhos, tenho medo, tenho medo de cair de joelhos e não mais levantar. Um mundo verde, assim tão sacro. Eu não aquentaria, como poderia fugir de suas palavras ? Como poderia pegar o primeiro trem para lugar nenhum ? Já é tempo, já é tempo de descobrir o tempo, este que vai ficando para trás e já posso contar as décadas.

Meu Cícero não me suporta mais, eu repito, eu repito tudo. Não me olhe nos olhos, fiz questão de usar lentes sem anti-reflexo apenas para você não me ver. É embaraçoso, é desconfortável abrir a pele como rasgos em tintas, mesmo para Varejão. Por detrás desta superfície exata, manipulada, há algo úmido e mole.

Preciso que alguém passe o bisturi em mim e descubra o que há detrás, pois eu tenho difilculdade. E é só... vou olhar minha carne no forno.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Cristina Canale - arredores e rastros


Subi as escadas vertebrais do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro tropeçando, meu açucar estava baixo e eu começava a não saber onde estava. Subi o segundo lance de escadas e cheguei ao último andar. Foi quando vi escrito « Cristina Canale - arredores e traços ». Olhei ao meu redor, e vi cores, um mar de cores. Então, meus olhos bateram na frase « Não é tanto um exercício de precisão da linha, mas de contenção e expansão de uma energia cromática. » do curador Luiz Camillo Osorio.

Exposição : Cristina Canale - arredores e rastros

Curadoria : Luiz Camillo Osorio

Local : Museu de Arte Moderna Rio de Janeiro

De 1˚ de julho a 15 de agosto de 2010

Resolvi descer as escadas, eu precisava refazer-me. Suprir meu corpo para depois alimentar a alma. Sentei no jardim do museu, pessoas treinavam lutas marciais, outras tocavam música, alguns caminhavam e eu comia um muffin de tomate feito por mim. Fiquei ali vendo o movimento, as palmeiras, a água e a vida. Eu adoro o concreto do museu.

E voltei, pousei meus pés sobre o chão cinza e subi novamente todas aquelas escadas sem fim deparando-me com « Lisérgico », 2002, acrílica, óleo e bastão oleoso sobre tela, técnica muito utilizada pela artista. E balbuciei baixinho « UAU ». Suas cores pulsam em movimentos alucinados e alucinantes. Os quadros são lúdicos, têm uma infantilidade madura, a mesma que sinto em minha mãe.

Gosto da metalinguagem que vi em « Casa da Esquina II » de 2005, quando vi o canto do quadro sem tinta deixando nua, a tela. Nada tem modulação, é um mundo quase sem profundidade, como se a vida estivesse toda rasa, toda à mostra, assim, tão acessível a quem quiser sentí-la e vê-la.

« Mãe e filha II » de 2007, este sou eu e a mamãe no Jardim Botânico. Elas são uma só, mudas e cegas por algum mal que as aflige. Uma protege a outra com a verdade do branco, cor tão usada pela artista e jamais temida. Grandes áreas brancas. Canale me traz coisas boas com suas cores suaves e pontos de potência. É sublime.

« Sangue frio » 1994, acrílica e óleo sobre tela pode ter o título pesado mas não possui estética de asco. Eu faria uma coleção de saias com este quadro. Mulheres suaves e calmas vestindo formas românticas, algo como New Look. Entretanto, de perto, mulheres frias e más. Não más pois matarão, mas porque roubarão seu coração sem pedir permissão e o enterrarão no quintal. E sem culpa. As blusas seriam de « Platane » 1995, óleo sobre tela.

« La chair est triste » 2010, acrílica, óleo e bastão oleoso sobre tela, faz berrar texturas, eu poderia ficar o dia todo olhando esta poltrona amarela. É viva, é positiva.

Eu quero me vestir de Canale e mergulhar em sua tinta, brincar com seus pincéis, ser a pequena « Columbina » 2006. Sair dançando por aí de saia verde-agua, convidada pelo azul profundo fluindo do fundo. E a música fica por conta do vermelho nos sapatinhos e no laranja-avermelhado na pedra, é o jazz, é o azul do blues. Meus pés seguiam o ritmo, meu sangue sentiu o cinza. A sala ficou cheia de ar…

Eu pagaria o que fosse para ter uma camisa com estampa de « Olhando para o Futuro » 2003. Eu quero pular, brincar, é o céu, é o céu ! Sentei no banco bem em frente ao quadro e fiquei. Não queria ir embora, eu poderia dormir aquela noite ali, ficaria com os olhos presos, entretidos, sedados por tantas cores lindas. E a menininha olhava o futuro, e eu ali bem na frente dela. Lembrei de quando eu sonhava acordada no meu quarto azul de cal, imaginando como eu seria quando mulher. O futuro será sempre futuro e eu permanecerei sonhando acordada esperando o fecundo futuro chegar ao sonho sempiterno para me tornar mulher.

Fiquei ali mais um tempo, locupletando-me vagarosamente do máximo que pudesse de Canale.

domingo, 15 de agosto de 2010

Mollica disse...


Há dias recebi este lindo e-mail.
Nada a declarar...

sábado, 7 de agosto de 2010

Goeldi - O encantador das sombras


Cheguei muito cedo à aula de estudos do plano com o professor Ricardo Becker. E resolvi aproveitar a luz enevoada dos jardins do Parque Laje para caminhar um pouco. Eu estava de meia-fina e aquele era dia para calça, nem minha echarpe estava comigo. Olhei as folhas, senti vontade de saber desenhar.

A aula correu bem, novos amigos et tout va bien. Agora era hora de Cícero (quando eu vou para as exposições com meu caderno para divagar e fingir-me crítica de arte). Hoje eu iria para a exposição do Goeldi, indicada pelo meu professor-orientador Pedro Duarte de Andrade. Nada eu tinha ouvido até então sobre este artista. Santa ignorância ! O dia estava chuvoso, chão molhado, céu cinza ; por assim dizer, dia mais perfeito para ver Goeldi, impossível.

Exposição : Goeldi – O encantador das sombras

Curadoria : Lani Goeldi

Local : Centro Cultural Correiros – Rio de Janeiro

De 22 de julho a 05 de setembro de 2010


As palavras de Lani Goeldi encantaram-me :

« A arte foi seu refúgio, tirou a luz das sombras e deu sombras à luz (…) » e a partir delas eu preparei minh’alma para receber a beleza da arte de Goeldi de mente aberta. Suas obras flutuavam com fios de aço como luas sobre o mar das paredes pintadas de azul. As molduras cor de cobre davam esplendor e destaque às gravuras e desenhos. E fui sendo sugada para o universo de Goeldi. « Cada traço é um pedaço de nervo com a veemência de um coração bárbaro. » Goeldi.

Soa como « Coração denunciador » de Allan Poe, encanta-me como vinho bom. É simples e complexo, tudo ao mesmo tempo. Quando vi o peixe olhar a faca cravada na mesa, aguardando para ser usada no seu sacrifício em « Peixaria » nanquim sobre papel, fique anestesiada. Era a dor do dia a dia, o sofrimento do peixe, o sofrimento de todos nós aguardando pelo golpe da vida afugentar o sopro de vida. Este quadro é seguido por outro homônimo, entretanto a faca já está no pescoço do peixe.

« O que é preciso é criar, dar alguma coisa de si, usar a fantasia e a vontade criadora, para gravar sempre mais em profundidade. » Goeldi. Contemporâneo de Anita Malfatti, Goeldi entendia o drama da cor, principalmente a preta como Mark Rothko. A essencialidade de suas formas trazem um arrebatamento sutil a quem o observa. É quase como não ter um lar. Seus personagens são solitários, tanto quanto um peixe, tanto quanto um pescador, tanto quanto um ladrão em dia de chuva. É preciso ter alma para não morrer. É preciso ter luz para ver, é preciso ter força para enxergar na escuridão. É a imagem do vazio cheio de sentimentos como o momento decisivo de « O ladrão ». Em contraponto, a espera do mal certo, ali, na porta ao lado, temos « O mal ».

Goeldi demonstra sabedoria ao utilizar a cor, o vermelho, por exemplo. Este serve de ponto de atração, indicando a direção do olhar ; ilustrado nas gravuras « Cabeça » e « Rua ». As cores não são aleatórias e nem ornamentais. Fazem parte de um jogo semiológico perfeito entre conceito e linguagem.

Achei muito curioso os cometários serem em sua maioria, ou na totalidade, advindas de escritores e poetas, sua obra seria mais poesia que gravura, mais linguagem progressiva que permanente ?

« Um artista admirável. Das duas tendências principais da xilogravura moderna, a germânica e a anglo-saxônica. Oswald Goeldi segue resolutamente a primeira. Possui essa liberdade luxuosa do desenho em branco e preto, que pode ir da síntese mais rápida à análise mais amorosa. E traz da escola alemã moderna essa fineza de critério com que ela soube conservar na xilogravura contemporânea as qualidades vegetais desse processo de impressão, que do Barroco pra cá tinham sido abandonadas. » Mário de Andrade.

A gravura que mais gostei ? Certamente « Estrada », dirigiria por ela com um carro esporte vermelho, para não destoar da paisagem. Seria tão solitária quanto seus personagens, tão profunda quanto uma bacia de sangue.

Observação interessante : troquei duas palavras com Iara Tupinambá, artista plástica mineira que foi aluna de Goeldi. E sim, travei, fiquei congelada e não consegui perguntar nada. Deve ter sido o ar condicionado…

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Anita Malfatti - 120 anos de nascimento


Domingo é o dia perfeito para fazer uma « grasse matinée », acordei quando meu corpo pediu. De qualquer forma não poderia ficar muito na cama, um dia cheio de aventuras estava pela frente. Fiz uma omelete breve, arrumei os cabelos e sai de casa com meu bolo de chocolate com banana na bolsa. Fazia 31˚ e todos iam e vinham da praia. E eu vestida com uniforme de museu : sapatos confortáveis, roupa fresca e echarpe (sempre está frio dentro das galerias), sem esquecer do pequeno caderno Cícero e da caneta preta BIC. Resolvi descobrir o que o CCBB poderia me oferecer neste domingo. Desci na estação Uruguaiana , não havia ninguém nas ruas, o centro da cidade do Rio de Janeiro é lindo, mas suas ruas guardam segredos e eu estava só. Resolvi, então, não andar pelas ruas estreitas e sim pela Rio Branco. Cheguei ao Centro Cultural sã e salva e pude desfrutar de duas lindas exposições.

Exposição : Anita Malfatti – 120 anos de nascimento
Curadoria : Luzia Portinari Greggio
Local : Centro Cultura Banco do Brasil – Rio de Janeiro
31 de julho a 26 de setembro de 2010


Chamou muito a minha atenção uma frase escrita pela curadora Luzia, « mulher sem fortuna e com uma grave deficiência física, numa cidade provinciana e com rígidas regras sociais. ». Ler isto modificou o meu olhar sobre aqueles quadros. O primeira quadro é « O Burrinho Correndo ». O burro parece voar ao invés de correr e as cores e proporções são exatas, tudo isso em um quadro de um palmo. Isto com apenas 10 anos de idade.
Tinha uma atrofia congênita no braço e na mão direita. Ainda bem que não era na esquerda, pois nela esta o lado criativo do cérebro.

O quadro « A Estudante » 1915-1916, óleo sobre tela, brinca com o rox o e o verde. O tom é suave e vivo. O engraçado é que apesar de seus trajes e fundo serem serenos, seu olhar está fixado ao longe e com olheiras. Sua feição é descontente, sua postura está curvada, talvez estivesse cansada de tanto ficar debruçada sobre livros.
Há uma provável influência de Vicent van Gogh em «Ventania » 1915/1917, óleo sobre tela. As pinceladas são circulares, seguindo o movimento do vento, como van Gogh fazia.

« Chanson de Montmartre » 1926, óleo sobre tela, este é delirante. Eu poderia ficar horas ali observando, espiando aquela moça na janela com seu gato de laço no pescoço. Dá para ver sua cama ao fundo, é uma cama de solteiro. Quem seria ela ? E a espera na janela, quem esperaria ?

Em contraponto a toda aquela sutileza, temos « A Chineza » 1921/1922, óleo sobre tela, que é permeado por um mistério. O vermelho Rothko do fundo puxa a atenção empurrando para o colo do espectador aquela chineza que indaga « C’est quoi ? » com uma certa indiferença.

Já em « Noivinho » 1925, óleo sobre tela, poderia dizer que « que gracinha de menino ! ». É um pequeno burguês francês, talvez, com cores de bala e violetas. É doce, é doce.
Em « Medalhão de Flores com borboletas » 1938, óleo sobre tela, eu pude ver um broche de tão encantador e formalmente resolvido e completo.

« Anêmonas », s.d., óleo sobre tela, este daria uma ótima estampa de vestido. « Retrato de Nonê (Oswald de Andrade Filho), 1935, óleo sobre tela, percebo uma clara referência ao estilo de Tarsila do Amaral pela forma de representar a folha e até mesmo as feições de Nonê.

As luzes levavam ao interior de cada um de nós a magia das obras de Anita, as cores nas paredes ajudaram a realçar a magia e até mesmo o cheiro que flutua por entre as pessoas fizeram desta exposição uma maravilha para os sentidos. Apenas não devo esquecer que domingo, não é dia de museu, está sempre muito cheio e alguns não entendem que o silêncio é respeito com a experiência dos outros. Para resolver isto : jazz em fones auriculares, eles vedam o barulho externo. Fica dica !

sábado, 31 de julho de 2010

Na minha inconstância, encontro uma lógica plausível.
Nas minhas memórias, encontros e desencontros.
Apenas preciso saber o que sinto e o que não quero mais sentir.
São por estes motivos que trilho este caminho.
Onde estarei quando terminar a última folha?
Na verdade, posso deixar páginas em branco como deixarei linhas em branco.
Nunca estarei completa como os meus cadernos.
Só me importam o começo e o meio.
O final, eu deixo para vocês.

domingo, 27 de junho de 2010

Fiat modus!


Quais são os parâmetros que devemos adotar ? Será errado o encantamento e mudança drástica de foco ? Desde bem pequena eu desejava criar, eu apenas não sabia qual seria a minha porta, a minha faca, o meu suporte. Deparei-me com várias portas, algumas abri como a da fotografia, outras espiei como a da filosofia, e outras observei como a da gastronomia. Cortei pápeis, livros e queijos. Usei câmeras, canetas e panelas. Flutuei contente, viajei para vários lugares. Eu estava tentando encontrar uma resposta. Perguntei à torre Eifel, à estátua da Liberdade, aos quadros do Rothko, e até ao Gaudí. Não puderam dizer-me nada. A resposta estava ardendo em meu coração. Mas como falo tanto, debato-me tanto, reclamo tanto, não pude ouvir. Agora fiquei quieta, deixei minhas palavras serem absorvidas pela minha carne. Abri apenas os ouvidos internos. E pude escutar claramente, foi ali, através de um e-mail amigo. E assim, entendi, aceitei e respondi. Digo sim, definitivamente digo sim. Não fugirei do que sempre fui e do que continuo sendo. C’est la mode, c’est ma vie, c’était toujours ma vie. C’est chez moi. C’est dans moi. Fiat modus !

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Sou rasa

Havia um senhor subindo a escada rolante, era bem velhinho, percebi um afastamento dos outros. As pessoas têm medo da velhice. Apenas não sabem que a doença não é da idade, começa dentro de nós como veneno desde jovens e tenros. O metrô é como um formigueiro. Segui distante, absorta em meus pensamentos. As lágrimas pulavam dos meus olhos em suicídio. Eu não estava triste de fato, apenas com medo. Apavorada com a doença que nos cerca e nos contamida diariamente através de todas as coisas mais desejosas. Como eu poderia ser direta, se a direção mais óbvia era examente agir em linha reta ? Eu não poderia mais. Daqui por diante, desculpe-me, tentarei ser mais distante, tentando afastar-me do meu próprio eu, do meu dasein. Perco-me inconsolavelmente dentro do meu passado. Não há mal nenhum. São apenas sentimentos malucos, inraivecidos pelo tempo, conclusões precipitadas e margor que nem toda saliva pôde limpar. Sou honesta : sou rasa como piscina olímpica, cruel como uma freira, e doce como uma grapefruit. Eu apenas queria uma conversa mais amena, sem preocupações de inteligência ou superavit. Apenas umas boas risadas com bons erros de gramática. « Me dá um abraço ? Tô precisando tanto. » É assim que eu diria, com toda inocência e todo carinho.

sábado, 12 de junho de 2010

Menino do metrô


Hoje me emocionei com uma pequena cena pequena. Após trabalhar o dia todo, peguei meu metrô de Botafogo para Ipanema. Minha cabeça doía um pouco, talvez pelo frio bizarro nesse Rio de Janeiro dos sempre 40˚C. Eu nem mesmo sabia muito bem para onde olhar, e fiquei tentando segurar minha cabeça com cara de boba, os olhos fechando.
Na minha frente, havia um garoto. Devia ter seus 20 e poucos anos. Tinha um brinco na orelha esquerda de pedrinha branca, a pele era morena, cabeça raspada. E apesar de estar arrumado, era fácil perceber que ele era um trabalhor, ou não.
Com seus braços, ele segurava uma mochila da Nike preta com 3 zipers, brilhante. E cada vez mais, ele abraçava e apertava aquele pedaço de nylon. E foi aproximando de seu rosto com tanto carinho e tão disfarçadamente que parecia querer beijar os lábios da mochila. E foi chegando mais próximo. Quando percebi que ele fechou os olhos com delicadeza e juntou seu nariz no preto do objeto e respirou contente e relaxado o aroma da mochila.
Foi então que percebi, pendurada nela, havia uma grande etiqueta laranja e enorme. Sim, a mochila da Nike era nova, era o cheiro do novo, e apenas ele poderia dizer o quanto havia trabalhado e feito sacrifícios para ter aqueles pedaços de nylon com brilho. Não era um objeto, era o sonho, o prazer, uma delíicia.
O trem parou na General Osório, e todos desceram. Levantou-se, com calma, colocou o aparato em suas costas, como não
faria nem com a mulher dos seus sonhos.
E seguiu orgulhoso. Contente, satisfeito, dono de si.
Talvez tenha sido um presente do dia dos namorados, dela para ele ou dele mesmo. E sim, não mentirei, hoje também darei um grande presente para mim. Darei uma dose de wisky com uma pedra de gelo e uma hora de leitura. Ah, que felicidade. Então, assim, poderei seguir contente e satisfeita e dona de mim tal como o menino do metrô.
Feliz dia dos namorados para todos.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Caledoscópio de FAMÍLIA


Qual é o sentimento adequado para uma hora de colisão ? O que devemos pensar e quando devemos agir, ou não ?
Uma vez quebrado, o encantamento torna-se nulo, faísca morta em madeira.
Senti-me nula e zonza. Tonta de raiva misturada com desespero e até um pouco de orgulho. O sentimento de não entender querendo continuar no escuro para não enxergar que os errados somos nós mesmos. E quando o sofrimento invade de tal forma seus pensamentos e veias que, até seu baço responde negativamente em uma sessão de acupuntura de quarta-feira após trabalho.
E a certeza prazerosa de saber que depois disso tudo, você poderá ouvir de forma sonolenta as conclusões filosóficas de um querido professor.
É vazio, é constrangedor ter que retomar todo o carinho perdido. Desculpe-me se digo : talvez sou culpada de tão inocente que quis querer ser. E não continuarei indagando minhas reações, pois, estas são mais obscuras que minha própria visão da realidade. São como imagens sobrepostas vertiginosas querendo alcançar minha alma partida e perdida em algum lugar qualquer.
Hoje, fico só, apenas com algumas ideias bobas, um nariz escorrendo e um trabalho sobre Lucas Nascimento. E viva a complexidade das tramas de tricô.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

You gonna make me lonesome when you go

Não seria uma má ideia transformar toda essa filosofia de vida em um amor de vida. O passado garante nosso futuro e eu espero firmemente alguém para “light up my life”.

O que seria a ilusão passageira de duas pessoas que se debatem em espasmos esperançosos? Eu sonho, idolatro o conhecimento. Diplomas? Não são eles, eles apenas provam, é como uma ficha criminal do bem.

Eu resolvi seguir distante e não pude. Fui puxada para linha de fogo, e tivemos nosso primeiro encontro secreto, nosso primeiro toque, ali, assim, na frente de todos. Ele chamou-me para dançar com palavras e imagens. E deixamos a valsa cantarolar em meio a cadeiras feias e luzes claras.

O cenário é algo de Madeleine Peyroux e Chet Baker. Mistura suave e dançante. Apenas com muitas testemunhas. E ninguém viu nada, testemunhas cegas. Ninguém ouviu nada, testemunhas surdas. E eu ali, eloqüente e apaixonada., consegui manter contato visual com o mito. Este que saiu de dentro da caverna apenas para me ver passar. Deixou para trás suas pedras e tudo mais, apenas para me ver voar.

“Don´t cry, cry baby, there is no one but you”.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Lucas Nascimento Verão 2011


Lucas Nascimento impressionou, mas não pelo seu desfile sem graça. E sim pelo seu expertise.
E ele atendeu bem ao primeiro ponto para ser um artista de verdade por Mário de Andrade: ser um bom artesão.
Na verdade, assistir a um desfile e não saber chongas do que está acontecendo é null. Então, pesquise antes de sentar-se quem é aquele estranho que apresentará 15 looks em nem 10 minutos e você ali sentada na seção C na fila C descobre que está no assento errado. Who cares? O crachá é a intenção e a caruda. Ninguém pedirá que se levante. Então, aproveite a sensação.

Chegando em casa, liguei o GNT, e descobri. Foi como um clique mágico, ver seu desfile foi como ver a exposição de Soulages no Pompidou sem ler o conceito, é vazio. Sim, aqueles tecidos não eram apenas tecidos com leves transparências, eram sim, tricô. A arte de minha avô. Da sua avô. E ele domina. E mais do que isso, ele modifica, descontroi para reorganizar de acordo com suas próprias regras e vontadinhas.

E nesse momento, percebi que posso confirmar meu comentário quando me perguntaram se havia gostado do desfile de Lucas. Eu apenas disse que ainda estava digerindo.

É a vida, normalmente, não sabemos de nada. Só que um pouco de conhecimento engradece a experiência. E gera, também, oportunidades.

E esse foi meu último dia de Fashion Rio. E o primeiro dia de uma saga.

domingo, 23 de maio de 2010

Montjuic


E se eu parar e pensar em tudo o que li há pouco. Na verdade, eu parei. Tenho medo de admitir que sim, fiquei desnorteada, perdi o sono, e queimei a banana caramelada. Fui ao Facebook deletar Bruno Santracroce da minha lista de amigos. Ele não era meu amigo. Entreguei alguns dos meus medos à ele, meu corpo também, meus beijos e minhas suavidades. Deixei um pouco da minha saúde naquelas quimbas de cigarro caro do El Corte Inglês. Não seria justo, seria ? eu não sabia.

Eu não consegui deletar. Todos tem motivos pelos quais agem de certa forma. Não que eu possa compreender tudo, entretanto, percebi que tudo muda, que eu não sei o que acontece nos quatro cantos do universo, que eu não sinto tudo do mundo, que eu simplesmente, existo singular e isolada como todos os outros. Minha dor é só minha.

« Nao é por nada nao Aninha, mas vc me inspira!!! To pensando em ti direto!!!” e recebi esta mensagem às duas da madrugada, horário de Brasília.

Estava muito sol, verão na Catalunia. Barcelona é solar, é clara, é antiga, como se existisse um filtro âmbar por sobre as paisagens. Eu andava em direção ao Castelo de Montjuic.

- Oi, licença. Você sabe como eu chego ao Castelo? – eu perguntei à única pessoa naquela ladeira.

- Eu estou indo para lá também – ela respondeu com um sorriso.

Uma russa, parecida com uma matrioska, mas fashion. Fomos até o Castelo conversando sobre nossa viagens. Ela também estava fazendo um mochilão. Falávamos de como é impossível entender o inglês dos ingleses, de como ficávamos mais caçadoras quando sozinhas, de como era legal andar por aí sem saber o que iria acontecer, das baladas, dos homens, das roupas.

E quando percebemos, estávamos na frente do Montjuic. Não sabíamos se era necessário comprar ingresso ou não. Entramos em uma sala de informação, e haviam três homens. E eles falavam português. Um estava sentado à mesa e parecia trabalhar lá. Era mais velho, talvez uns 40 anos, mas ainda bonito. Os outros dois eram bem diferentes um do outro. Um, bem alto, com blusa sem mangas. O outro, parecia ou designer, ou músico, ou poeta. Vinha em uma bermuda, camiseta e umas bolsas e pochetes amarradas nele. Haviam cachos por toda parte em sua cabeça e eu senti vontade de fazer cafuné.

Conversamos todos, rimos, e os três eram incrivelmente gentis. Eu quis abraçar os três. Descobri que os dois que não haviam nada um com o outro eram irmãos. Na verdade, eles tinham, ambos eram amáveis. E não importava jamais o que seus sinais externos gritavam, eles eram homens, bons homens.

Tiramos uma foto, os dois, eu e minha queria russa. Eu queria me apaixonar por Tiago. De qualquer forma, eu não o veria mais. Nunca mais. E também não estava muito preocupada com isso.

Eles iam para Paris no mesmo dia, eu iria daqui há 4 dias. Pediram-me indicação de albergue e eu dei o telefone do que eu ficaria mais tarde. Não trocamos e-mail, nem nenhum contato. Éramos viajantes. E pronto.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Miami rocks I

Eu estava suando. Eu estou sempre suando em aeroportos. Não sei se é o excesso de bagagem ou a adrenalina. Quem sabe com o tempo eu consiga traquilizar-me. Olhei em volta e havia tanta gente ao meu redor. O aeroporto de Miami não é tão grande, mas é confuso. Era a minha primeira vez viajando sozinha, sozinha de verdade. Em Houston, eu tinha o tio Marcelinho esperando-me de pick-up no Baggage Claiming. Desta vez, eu tinha apenas minha vontade de me divertir. E eu não estava tão certa assim quanto à isso.

Eu tinha duas malas enormes com uma etiqueta de « Cuidado, objeto extremamente pesado ». Claro que estava escrito em inglês, e a frase sempre fica menor e mais compreensível que em português. Compreensível é engraçado, pois é bem maçante.

Deixei os dois pesos mortos no guarda-volume. E agradeci bastante ele aceitarem meu cartão de crédito. Do contrário, ganharia um problema pois foram 100 dólares para deixar as duas malas lá. Quase a mesma coisa que paguei para eu ficar a semana no albergue. Pensar sobre este fato deixava-me completamente assutada.

Há dois meses, antes de vir para os Estados Unidos, eu havia assistido « O Albergue ». Um filme de mau gosto do Tarantino. Digo de mau gosto porque eu estava na situação. Mas assistam, eu adorei o filme. Adorei porque ainda não sabia que ficaria em um albergue em Miami. Eu estava sozinha com uma pequena mala cheia de roupas lindas, um Angel, uma sandália Carmem Steffens e dois colares de cristal. Completamente pronta para todos os pecados que minha cidade natal poderia me trazer.

South Beach representava muito mais que uma semana de férias para mim, seria minha primeira vez na cidade onde eu havia nascido. Segunda vez, para melhor dizer. A primeira foi quando nasci. Que redundante.

Peguei as malas enormemente pesadas, coloquei-as no carrinhos e rodei atras de um guarda-volume. Fiquei indecisa. Deixei-as lá. Eu já contei isso, não é mesmo ? estou reduntante, estou contundente, estou confusa. Na verdade, eu estava sentindo-me completamente sozinha e com um pouco de vontade de chorar. E ao mesmo tempo, completamente livre.

Peguei minha pequena bagagem de mão Liz Clairbone, e segui super sofisticada, super sexy, querendo desfrutar do direito de ser mulher que havia me sido concedido por 7 dias em Miami Beach.

Andei até a saída, e ganhei um belo problema. Eu não sabia chegar ao albergue e eu sabia estar bem longe. O aerporto era em Miami, eu precisa ir para South Beach. Que maçada.

Eu tinha algumas opções : super shuttle, ônibus, táxi. Pensei primeiramente no ônibus. Eu só tinha 200 dólares para a semana inteira. É muito pouco. Não dá segurança, fiquei com medo. Cheguei perto do ônibus, eu sei que o motorista me viu mas arrancou com pé pesado no acelerador. E eu fiquei ali parada com minha malinha azul cheia de rímel nos olhos, tão lindinha e infantil.

Voltei e falei com o moço da van. Eram mais de 20 dólares para levarem-me ao albergue, entretanto eles deixariam-me na porta do lugar. Fazer o quê. Paguei e fiquei ali esperando minha vez. Quando a van chegou, depois de uns 20 minutos, eu entreguei minha mala para o motorista que acomodou-a gentilmente no porta-malas e eu sentei satisfeita no meu banco macio.

Era um final de tarde tão agradável, estávamos no inverno mas na Flórida o sol é gentil e dá as caras mais facilmente. Ele vem abençoar as pessoas que querem divertir-se e nos faz sentir acompanhados. A solidão passa longe, deve ter pego um jatinho para Nova Iorque. Lá sim, lá é possível sentir-se só.

Eu nunca havia estado naquela cidade, a não ser na barriga da minha mãe, ou no colo dela. Todavia, olhava as palmeiras tão retilínias e esquias e lembrava das fotografias que havia visto, e de tantas histórias que havia ouvido. Elas já faziam parte de mim. Encostei minha cabeça no banco e fui deixando-me levar por aquelas belas cores do pôr-do-sol. Era o tom da adrenalina e do conforto : quente e excitante.

Eu havia visto lindas fotografias do albergue. Havia um bar, as cervejas mais baratas de Miami. Foi assim que meu pai escolheu o lugar. Depois ele diz que eu bebo muito. Talvez ele só queria economizar.

A van parou.

-Ana Carolina, este é a sua parada. – o motorista desceu, pegou minha mala e eu fiquei ali parada por dois segundos na frente daquele buraco escuro e todo descascado.

Foram 120 segundos eternos e eu olhando para aquele corredor aterrorizante. Respirei bem fundo e segui pelo escuro. Eu sabia, eu não voltaria viva daqueles sete dias. Eles iam me violentar, esquartejar, degolar, arrancar meus cabelos.

- Pára, pára de pensar merda. Se é pra morrer, morre com coragem e feliz, porra ! – isso foi minha conciência falando. Normalmente, ela é mais rascante que eu. Mas eu a perdoo.

Entrei na recepção do albergue e havia um lindo sofá amarelo gema de ovo. E não vi nenhuma faca, arma ou corrente. Talvez eu não fosse ser assassinada. Eu estava preparada ou não para falar.

- Oi, meu nome é Ana Carolina Malveira Ferreira. Eu fiz reserva para uma semana. – e fiquei ali esperando.

O moço mandou-me para um quarto muito pequeno com umas 6 camas. Era caustrofóbico. Sentei na cama que seria minha. Olhei para o lado e havia uma garota gorda e baixa, ela estava com roupas que eu não usaria nem para ficar em casa. Ela olhou para mim com olhos gentis e puxou conversa.

Ela falou de onde era, mas eu não prestei atenção. Ela estava ali para procurar emprego, ela tinha cara de fome. Então, tive um clique e lembrei que meu pai havia feito reserva para um quarto com 4 camas e não 6.

Desci as escadas correndo e falei com o moço. Era verdade. Sobi correndo novamente e pequei minha pequena mala. Segui para o quarto ao lado. Apenas 4 camas, 2 beliches. Yes ! Bem melhor. Talvez não tão melhor. Haviam duas alemães nas camas de cima. Elas tinham uma cara apavorante. Eu fiquei com medo daquelas caras brancas e fechadas. Elas nem mesmo falaram comigo. E tinham lindos notebook no colo. E eu com medo de roubarem meus sapatos. De uma certa forma, relaxei.

Arrumei minhas coisas e fui à CVS comprar cadeados para o armário. Comprei os únicos que tinham. E acreditem, eu fiquei com vergonha, pois eles eram muito grandes. Coloquei somente o dinheiro, os sapatos, os perfumes e os brincos no armário. Eu fiquei com uma das camas de cima, o que causa certo desconforto para mim ter que subir. Fiquei imaginando eu chegando de madrugada.

Organizei a mala como mamãe ensinou. Separei duas produções para cada dia, uma para a praia e outra para a balada ; assim não perderia tempo pensando em qual roupa usaria. Com já estava noite, peguei o modelito noturno e fui tomar um banho. Eu precisava tirar aquele suor todo do meu corpo e liberar geral.

Ali, naquela cidade, eu não era ninguém, era invisível, e sozinha. A Ana Bacana havia ficado em Franca, 3 meses atrás. E eu, definitivamente, queria fazer amigos. Cologuei minha necessaire pendurada em algum lugar e liguei o chuveiro.

O banheiro não era tão mal e eu estava preparada para o pior. Haviam uns tablados no chão como nas academias de ginastica. Uns espelhos quebrados e a janela dava para um terreno baldio. Comecei a molhar-me, a água era gentil com meu corpo. E eu relaxei excitada com o pequeno cartaz que havia lido na porta do banheiro. Haveria uma festa com bebidas liberadas somente para pessoas do albergue. Era uma excelente estréia, não é mesmo ?

Olhei pela fresta da cortina e vi uma garota com rabo de cavalo comendo iogurte. Ela entrou no banheiro com a colher na boca. Eu tenho certeza que era de morango. Mesmo que não fosse, nos meus sonhos seria morango. E ela estava com um agasalho com a bandeira do Brasil.

- Ei, você vai na festa hoje ?

- Sorry ?

- Sorry, I thought you were Brazilian. – ela era espanhola, talvez fosse até melhor. Eu não posso dizer que tenha sido amor à primeira vista, mas um impacto. Eu não sou lésbica, okay ?

Tomei banho na velocidade da luz, e encontrei com ela ainda olhando-se no espelho. E perguntei novamente se ela iria à festa. Ela disse que sim. Vesti-me com capricho, afinal, era minha noite de estréia e eu precisava arrasar.