segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Anita Malfatti - 120 anos de nascimento


Domingo é o dia perfeito para fazer uma « grasse matinée », acordei quando meu corpo pediu. De qualquer forma não poderia ficar muito na cama, um dia cheio de aventuras estava pela frente. Fiz uma omelete breve, arrumei os cabelos e sai de casa com meu bolo de chocolate com banana na bolsa. Fazia 31˚ e todos iam e vinham da praia. E eu vestida com uniforme de museu : sapatos confortáveis, roupa fresca e echarpe (sempre está frio dentro das galerias), sem esquecer do pequeno caderno Cícero e da caneta preta BIC. Resolvi descobrir o que o CCBB poderia me oferecer neste domingo. Desci na estação Uruguaiana , não havia ninguém nas ruas, o centro da cidade do Rio de Janeiro é lindo, mas suas ruas guardam segredos e eu estava só. Resolvi, então, não andar pelas ruas estreitas e sim pela Rio Branco. Cheguei ao Centro Cultural sã e salva e pude desfrutar de duas lindas exposições.

Exposição : Anita Malfatti – 120 anos de nascimento
Curadoria : Luzia Portinari Greggio
Local : Centro Cultura Banco do Brasil – Rio de Janeiro
31 de julho a 26 de setembro de 2010


Chamou muito a minha atenção uma frase escrita pela curadora Luzia, « mulher sem fortuna e com uma grave deficiência física, numa cidade provinciana e com rígidas regras sociais. ». Ler isto modificou o meu olhar sobre aqueles quadros. O primeira quadro é « O Burrinho Correndo ». O burro parece voar ao invés de correr e as cores e proporções são exatas, tudo isso em um quadro de um palmo. Isto com apenas 10 anos de idade.
Tinha uma atrofia congênita no braço e na mão direita. Ainda bem que não era na esquerda, pois nela esta o lado criativo do cérebro.

O quadro « A Estudante » 1915-1916, óleo sobre tela, brinca com o rox o e o verde. O tom é suave e vivo. O engraçado é que apesar de seus trajes e fundo serem serenos, seu olhar está fixado ao longe e com olheiras. Sua feição é descontente, sua postura está curvada, talvez estivesse cansada de tanto ficar debruçada sobre livros.
Há uma provável influência de Vicent van Gogh em «Ventania » 1915/1917, óleo sobre tela. As pinceladas são circulares, seguindo o movimento do vento, como van Gogh fazia.

« Chanson de Montmartre » 1926, óleo sobre tela, este é delirante. Eu poderia ficar horas ali observando, espiando aquela moça na janela com seu gato de laço no pescoço. Dá para ver sua cama ao fundo, é uma cama de solteiro. Quem seria ela ? E a espera na janela, quem esperaria ?

Em contraponto a toda aquela sutileza, temos « A Chineza » 1921/1922, óleo sobre tela, que é permeado por um mistério. O vermelho Rothko do fundo puxa a atenção empurrando para o colo do espectador aquela chineza que indaga « C’est quoi ? » com uma certa indiferença.

Já em « Noivinho » 1925, óleo sobre tela, poderia dizer que « que gracinha de menino ! ». É um pequeno burguês francês, talvez, com cores de bala e violetas. É doce, é doce.
Em « Medalhão de Flores com borboletas » 1938, óleo sobre tela, eu pude ver um broche de tão encantador e formalmente resolvido e completo.

« Anêmonas », s.d., óleo sobre tela, este daria uma ótima estampa de vestido. « Retrato de Nonê (Oswald de Andrade Filho), 1935, óleo sobre tela, percebo uma clara referência ao estilo de Tarsila do Amaral pela forma de representar a folha e até mesmo as feições de Nonê.

As luzes levavam ao interior de cada um de nós a magia das obras de Anita, as cores nas paredes ajudaram a realçar a magia e até mesmo o cheiro que flutua por entre as pessoas fizeram desta exposição uma maravilha para os sentidos. Apenas não devo esquecer que domingo, não é dia de museu, está sempre muito cheio e alguns não entendem que o silêncio é respeito com a experiência dos outros. Para resolver isto : jazz em fones auriculares, eles vedam o barulho externo. Fica dica !

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