domingo, 7 de setembro de 2008

Ibiza ou Elvissa...eu precisava saber...desculpa...





            Eu poderia começar com "Foi o final de semana mais louco." Seria até verdade porém soaria tão vazio. Prefiro dizer que pele clara em um quarto mediterrâneo completou minha alma como ouvir jazz domingo à noite no meu apartamento. Eu e uma amiga, não citarei nome. Nem sempre as pessoas ou os nomes delas são importantes. Nunca lembro nomes. Compramos passagens de navio para ir para Elvissa. Já ouviu falar sobre este lugar? É Ibiza. Um sonho, tenho medo de sonhos. Tenho medo de desejar coisas, elas podem tornar-se realidade.

            Eu tinha sono e não aquentava mais Gandía. Todas aquelas falsas amizades, toda aquela farsa. Eu precisava ser eu, eu precisava voltar para algum lugar. Luzes dizem muito para mim. Chegamos a Ibiza e vi tons roxos e verdes. Era tão lindo e tão particular. Lembrei do meu ex-noivo light designer. Queria dizer a ele que sabia distinguir cores. Chegamos ao porto e não sabia o que fazer. Não gosto de narrar acontecimentos, apenas o que senti. Senti-me sozinha, não era a pessoa com a qual eu queria estar, não eram as roupas que eu queria usar. O ar estava fofo como em um bolo de laranja. Eu sentia-me segura sem mesmo saber o porquê. Perder faz parte de tudo. Andamos, eu senti muito medo, um frio que não existia, vontade de abraçar meu pai e pedir perdão. Três pais-nosso e quatro ave-marias. Como se eu me preocupasse com rezas. Dinheiro é necessário. Eu sabia que aquele não era o meu lugar, pelo menos não com a companhia que eu estava. Confie, confie em você.  Fomos para o lugar das luzes. Entramos. Nossa sorte cambiava a cada segundo. Gosto de repetir isso porque a cor dos meus olhos também cambiaram. Como escrever sobre amores? Conhecemos Patrick: o amigo do Bob Esponja. Situações favoráveis. Santos e anjos dizem amém para minhas maluquices. Tenho medo mesmo assim. Fomos para a casa dele e ...

            Imaginem o que quiserem, até minha mãe não acreditaria em mim. Ele foi amável, tomei um banho. O banheiro parecia os dos prédios do Jardim Botânico. Senti-me em casa. Banheira. O quarto dele tinha uma luz difusa que me rendeu pesadelos. "Você vai conhecer a máfia madrileña amanhã." Bronquite asmática, um homem de terno, alto, forte e atraente sacou uma bazuca de seu palitó alinhado e começou a atirar em mim com fogos de artifício. Eu ali parada em um bar chique. Não consegui me mexer até que alguém me puxou e mesmo assim eu não queria ir. Seus olhos me prendiam, seu corpo e calor que eu podia sentir mesmo com todos aqueles tecidos.

            Acordei e Patrick tentava me beijar. Nada é de graça. Eu não ligava. Já fiz tantas coisas das quais me arrependo. E sempre acordo sozinha. Fugimos. Praia de Ibiza. Sonhos. Digo: sonhos são traiçoeiros. Eu não queria estar ali. Sentia-me oportunista. Não sei o porquê. O sol queimava meu corpo, eu não queria dormir.

            Meu corpo estava leve, não sei o que aconteceu, comecei a pesar como melancia. Tão líquida e tão forte. Descobri que sangrava, meu corpo pedia repouso. Meu sangue esvaia-se por onde podia. Um minuto, preciso de mais bebida.

            Onde eu estava? Só um momento. Hum, eu disse para ela:

            - Eu quero voltar para a casa do Patrick.

            Não tinha chance, naquele estado como tomar banho na praia? Eu precisava de patronagem liberada. Chegamos lá a muito custo, eu não conseguia andar. Tomei um banho, tirei toda a dor do mundo, joguei pelo ralo da banheira. Limpei meu corpo com todo aquele sabonete líquido. Água quente deslizando pelo meu corpo como um chá de alecrim. Foi quando cheguei à sala.

            Tive uma visão totalmente Made by Ibiza: pés descalços cheios de areia, shorts de praia, sem camisa, cabeça raspada, olhos de desejo, verdes como aquele mar que eu podia ver da varanda do apartamento. Falava uma língua que eu não entendia. Era espanhol porém eu não queria falar, eu não queria saber de mais nada. Eu me perdi, não importava mais nem minhas preciosas fotografias. A máfia madrileña. Eu só pensava em gangues, tiros de artifício. Eu queria saber o que usaria para prendê-lo.

            Minhas lentes nos levaram para um passeio incrível por San Antonio. Eu sentia o vento empurrar meus cabelos. Eu via verde, uma cor diferente, tão mediterrânea, seca e bela. Cinco pessoas em um carro, e eu estava completa e totalmente confusa.

            É bom saber que podemos, não mesmo? Eu não sou feminista, nem tampouco machista. Eu sou apenas eu mesma. Sempre a procura do sexo perfeito. Tolice. Fotografias interessam-me muito mais. Status não produzem mais efeito. Pôr-do-sol em uma praia cheia de pedras, pessoas aplaudem. Consigo ver cores, ton-sur-ton, o verde se apaga e deixa o magenta com amarelo se acender. As cores se misturam e eu posso ver o sol. Sinto quando braços fortes e brancos me seguram com pudor. Ah, se ele me conhecesse. Tenho medo de pessoas que me conhecem. Eu poderia atravessar toda aquela água, chegar a barcos, até nas garças que detinham a liberdade tão sonhada.

            Eles foram trabalhar, e nós dormimos. Acordamos já super tarde e fomos para o lugar das luzes bonitas. Eu sabia que elas eram o que menos importavam em toda aquela história. Esperei paciente pela minha particularidade evidente. Eu queria aquele homem forte, braçal, que eu nem mesmo tinha vontade de conversar. Nem sempre conversas inteligentes me interessam. Será que precisamos conversar? Talvez eu seja um pouco machista neste sentido. Não exijo nenhuma ou qualquer intelectualidade. 

            Ibiza pode trazer ares de outras praias. Não quero mais contar nada sobre isso. Só digo uma coisa: foi suave. Vampiros sugam minha alma, e eu permito. Fundi minha alma com a dele, sem a esperança de algo a mais. Eu não queria nada em troca, eu apenas entrei, vi um gato na cozinha, uma mulher linda com shorts alimentava-o. Um casal dormia abraçado no sofá da sala. Havia uma televisão ligada. O sol era azul, igualzinho ao mar. Pessoas gostam de amar. Eu não sei do que gosto. Prefiro fazer experiências. Não precisamos de nada, apenas de uma cama grande, um guarda-roupa velho. Nada mais. Que tenha uma janela com céu azul, algumas flores. E que ele queira estar comigo. Suas mãos tão suaves tocavam meu rosto, eu queria muito mais que ele. Têm verbos que não preciso usar. Onde olho vejo vermelho, nuances suaves do que realmente sou. Eu sei que o tempo não faz diferença, é algo que contamos independente de tudo, de toda vontade existente, nem mesmo é preciso falar a mesma língua.

            Agora só lembro de mim no convés do navio, sentindo que valeu a pena, que aquelas colinas guardam minha história. Que nos vãos do caminho para a partida, ele estava ali, sentindo o mesmo que eu: a certeza de que era necessário ir,  que não importava que apenas tivesse durado horas, que eu seria dele. Na minha mente eu sabia que seria dele e dos próximos. Eu poderia amá-lo para sempre. Amor é perda. Eu sempre quero perder. Deitei e olhei a espuma das ondas. O sol estava fraco, eu voltava. Eu partia. Eu nem sofria.  Vivências são como lágrimas na chuva...

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