
“Caramels, bonbons et chocolats
Par moments, je ne te comprends pas
Merci, pas pour moi
Mais tu peux bien les offrir à une autre
qui aime le vent et le parfum des roses
Moi, les mots tendres enrobés de douceur
se posent sur ma bouche mais jamais sur mon cœur
Une parole encore”
Por Dalida
Sim, estamos no terceiro dia desta viagem. Na verdade, já estou bem distante deste dia. Já estou há dois meses deste dia. E tenho vagas memórias do que realmente aconteceu e de onde eu estive. Minhas emoções correm rapido demais e não fluem como deveriam. Hoje tomei uma banho de mar, ontem tomei um banho de chuva. E agora posso ver melhor tudo o que aconteceu. Sexta-feira, sai com Fábio. É um outro personagem deste meu livro. Ele é incrível. Mas não para mim. Passados estes meses desde a minha chegada a Paris, aprendi muitas coisas. E uma delas e a principal : agora eu quero ouvir e fazer apenas o que quero, não faço mais coisas para agradar ninguém. O tempo do puxa-saquismo acabou e eu irei me descobrir nova e fulgás como sempre fui. Ficava com medo de mostrar o que queria, não voltava atrás e nem esquecia coisas. Libertei-me e deixei todo o mal para trás. O mal era eu mesma, era uma corrente com uma bola na extremidade que me puxava para trás como em « O Motoqueiro Fantasma ».
Não posso mentir, eu me lembro bem do que aconteceu neste terceiro dia. Eu estava feliz mas não estava, exatamente confortável.
Combinamos de sair à noite. Alexis havia me contado sobre um lugar. E duas amigas iriam conosco. Eu não sabia se havia gostado disso. E como eu iria me comportar. De qualquer forma, vamos lá.
Cheguei cedo ao albergue para tomar banho e me arrumar. Ele marcou comigo às oito horas da noite. Eu esperei, esperei. Então, ele ligou e disse que atrasaria um pouco.
Fui para o La Montagne na Rue du Pot de Fer como ele disse. Tomei uma taça de vinho como ele disse. Eu sempre fazia como ele havia ditto. E onde eu estava? E qual eram minhas vontade? Onde eu realmente gostaria de ir? Agora eu vejo, entretanto, naqueles dias, onde eu estava? Aquela realmente não era eu. Ou sera que era?
O vinho acabou, a alegria também. Não gusto de esperar, não gusto de fazer esperarem. A espera é amarga e estraga a comida. Não é justo fazer um pudim esperar por horas fora da geladeira. Ele certamente se desmanchará. E eu era aquela ameixa em cima, eu comecei a escorregar e afundar no meio daquela massa cremosa e sufocante, estremamente doce e enjoativa. De repente, sem pensar, levantei, paguei e marchei de volta ao albergue. Apenas me dei conta quando já estava sentada na banqueta da recepção. Eu balançava meus pézinhos, haviam borboletas selvagens voando de um lado para o outro, vinham na garganta, desciam, e faziam alvoroço. O celular tocou. Sim, ele estava chegando, o meu norte estava chegando. Ah, como eu precisava dele. Eu não sabia o que queria, precisava dele para dizer.
E lá estavam as duas amigas. Uma japonesa. Ela era linda. Cabelos negros e lisos, grossos e fortes. Seu rosto era simétrico, e tinha lábios grossos. Estava vestida inteira de preto e mesmo assim conservava um ar inocente. Era um vestido de saia rodada e trazia na mão um iPhone. Era quase uma noiva pomerana. E eu desejei um abraço naquela figura delicada de voz suave e baixa. A outra era argentina. Não era bonita e nem feia. Tinha o nariz grande, e o lábio inferior cobria boa parte de seus dentes. Os cabelos não eram cacheados e nem mesmo lisos.
Alexis me abraçou, e eu senti meu mundo voltar. Seguimos em direção ao pequeno Monoprix ao lado do albergue na rue Mouffetard. Ele olhava rapidamente os rótulos e eu seguia-o. adorava ver os preços, como eram baratos aqueles queijos tão sonhados aqui no Brasil. Ele pegou um emmental, um camembert e não lembro o outro.
De repente, saio correndo. A padaria estava fechando, contudo ele conseguiu pegar a última baquete. Ele seguia desenfreado, não respirava. Seguimos para o metro Place Monge.
Compramos os bilhetes. E começamos a descer as escadas. Alexis descia de uma forma absurda como sempre. Às vezes, eu achava divertido. Vamos com calma, vamos com calma, eu pensava, por vezes, eu disse. Era inutil. Até que o buquê de minha noiva nipônica caiu no chão. Foi cada pétala para um lado, e ela nervosa olhava às escuras. Começamos a procurar, o chip estava de um lado, a capa, no outro. Enfim, conseguimos remontar o iPhone e ela voltou a ficar serena.
Seguiu viagem no vagão com aquele pequeno pedaço de tecnologia em seus dedos frágeis e românticos. Como sua cabeça era grande! Alexis abraçou-me e comentou achar ridículo essas pessoas que idolatram e amam seus aparatos tecnológicos, iPhones, iPods, iTudo. E olhou para seu velho e arranhado celular.
Olhei com docura, pois era o único jeito de olhá-la, e comentei que era melhor que guardasse o celular para não cair novamente. Ela também me olhou com doçura. Como eu sentia vontade de abraçá-la. Saimos da estação, e Alexis não sabia onde estava e perguntava a pessoas onde seria o tal bar. Ele parecia estúpido e atrapalhado nessa hora. E eu realmente não estava muito encantada com ele. Estava preferindo o papo com Carolina. Ela era envolvente. Não sei porque falávamos de nossas preferências. E a dela não era beber, e nem a minha. Queríamos fumar um. Alexis nem poderia ouvir essas palavras. Uma, porque eu era encantada para ele, outra, que sua cabeça conservadora e restrita não aceitaria. Não digo ser careta quem não fuma. Não é este o ponto. Entretanto seria hipocrisia simplesmente ignorar as coisas do mundo.
Aquela terça-feira era uma homenagem a Django Reinhardt, eu não sei por qual razão já que sua morte foi em maio. Estávamos em Janeiro. De qualquer forma, haviam vários bares e locais fazendo referências a ele. E eu não podia reclamar. Era um gipsy stile maravilhoso e delirante. O sangue parecia corer mais rápido nas veias, e a cabeça confundia-se com os acordes rápidos. Os dedos subiam e corriam pela guitarra e ao mesmo tempo aquele ritmo dançante e relaxante. Era tudo em uma coisa só. Era o prazer.
Chegamos no bar e o quarteto ainda não havia começado. Sentamos em uma mesa lá no fundo. Pedimos uma garrafa de vinho, comemos os queijos e conversamos sobre nada. Todos queriam impressionar. Na verdade, só Alexis queria destacar-se. Não, não, definitivamente não estou querendo atrapalhá-lo. Estou apenas visualizando de forma plástica no momento. Mesmo no presente lugar, eu sentia tudo isso, entretanto, não queria de forma alguma admitir. Seria o fim, seria o ultimato se eu pensasse a verdade. Eu queria ver apenas pôr-do-sóis e nada mais.
E ele exercia alguma mágica sobre mim, os beijos eram românticos, eram quentes. E eu realmente gostava de como ele me olhava. Era louco, insano, incomum e eu sentia-me linda com aqueles olhos verdes flertando comigo. Era como se eu tivesse ali, em minha frente, uma outra pessoa que era eu mesma. Tudo se resumia em uma paixão por mim mesma. A ilusão do outro ser, ser você mesmo. Narcisismo? Talvez, mas sou humana e me permito.
Quando entrou um floreiro. Carregava em seus braços um grande maço de rosas, eram pequenas, grandes, vermelhas, brancas, rosas. Ah, era uma cama de pétalas. Alexis perguntou-lhe em francês o preço. Então, escolheu três rosas. Eu ainda lembro do cheiro. Era o cheiro de Holambra, quando eu caminhava pelos galpões de flores com minha mãe na infância.
Ela trabalhou um tempo com decoração de casamento. E eu sempre ia junto. Amava aquele cheiro de água, de vida. Eu ajudava e ela me pagava. Eu devia ter uns 8 anos. Então, ela deu-me 5 reais. Lembro sim, comprei uma pequena malinha. Dentro dela, havia uma casa inteira em miniatura. Vinha até com os personagens. Achei em um brechó em Pouso Alegre, perto da praça da casa da minha avó.
A rosa maior e vermelha foi dada para mim. E outras duas brancas e menores para Lu e Carolina. Elas trocaram de rosas umas duas vezes, enquanto eu já beijava ardente os lábios de Alexis. Contente e preocupada. Eu não gusto de homens que dão rosas. nem chocolates.
De qualquer forma, encostei as pétalas no meu rosto e senti. Não sabia exatamente o que sentia. Mas sentia.
O quarteto começou a organizar os instrumentos. E começou a música. Eu e Alexis levantamos e fomos para o balcão para ver de perto o movimento. Ele sentou em uma banqueta e eu fiquei na frente, entre suas pernas. Ele enlaçou seus braços em minha e beijava orgulhoso meu pescoço. Eu sempre me sentia um troféu ao seu lado. Eu ainda não havia decidido se isso era mau ou bom. Então, fingi não entender. Até mesmo porque, eu não conhecia ninguém e ninguém me conhecia. Não importava muito. Não tinha o que ganhar nem o que perder.
Joguei-me na melodia e rebolava entre suas cochas. Deixava suas mãos deslizarem pela minha cintura e até subirem perto dos meus seios duros e pequenos. Eu estava ali pois não tinha para onde ir, ele estava ali porque não sabia onde ficar. Eram dois disparetes perdidos e compulsivos. E quando nos achássemos, sim, seria o fim.
Ao lado da mesa onde estávamos havia outra mesa. E nela, um homem com um iMac Pro. Ele favala olhando para a pequena camera na tela. De longe parecia um louco falando sozinho. Neste nosso mundo “moderno” ser louco já ganhou outros significados. Não sei como Machado de Assis reescreveria “O Alienista” agora. Talvez do mesmo jeito, sei lá. Pouco importa.
O que importa foi Alexis metendo-se na frente na camera e interrompendo a conversa. Sim, conversou e descobriu. O homem falava com seu irmão, que mora nos Estados Unidos. Demos boas risadas.
A parede ao lado era toda coberta por espelho. Brincamos de tirar fotografias de nós quarto juntos. Fiz um video também. Tudo muito escuro e usei meu celular. Não dá para ver muita coisa. É a modernidade, as mémorias-lixo, a velocidade.
As meninas foram embora. Fiquei ali com aquele estranho-novo-amor-pseudo-romance. Seguia alegre. O show não havia acabado, voltamos para a mesa. Ele colocou-me no seu colo e começou a instigar-me, provocar-me. Eu não estava excitada, mas resolvi entrar na dança por puro tédio.
Ele deitou-me no banco, e eu levantei-me.
- Arrisque-se, faça algo diferente, vai… - ele disse-me.
Sim, eu achava aquilo careta. Não acho moderna, a exposição. Não acho interessante este tipo de transgressão sem sentido. Sim, ele é um caretão. E digo dando risadas, pois chorar não vou.
Obviamente, a garçonete, mais para garçom, chegou e apartou a palhaçada.
-Obrigada - eu pensei.
Estava acabado o circo. Ficamos mais um pouco, até que ele olhou no relógio. Hora de ir, o metro iria fechar e estávmos longe de casa. Táxi em Paris é extremamente caro. E não estávamos dispostos a pagar o pato.
“Comme d’habitude”, saimos correndo. Descemos as escadas do metro quase surfando. Conseguimos pegar dois metros, mas o terceiro não. Sem problemas, resolvemos ir andando. Não estávamos longe. E foi até divertido. Estava bem frio, mas havíamos bebido e nos divertimos, o que afastou o frio.
No meio do caminho, vi um albergue bem para designer. Fiquei feliz em não tê-lo escolhido. Era em uma avenida meio nada a ver. Prefiro a rue Mouffetard, mesmo sendo muito turistica, não perde seu brilho e nunca perderá.
Chegamos ao albergue. Ele encostou-me na parede e amasou-me mais um pouco. Como eu estava complacente. Eu realmente não sabia onde estava. Certamente dentro de mim mesma, é que não estava. Talvez tivesse ido tirar ferias em algum lugar onde fosse verão..
E sim, perdi de ter ficado com o official de exército americano que dormia na cama ao lado. Ele era aqueles esteriótipos de filme, cabeça raspada, um rosto masculo e corpo forte. “A terrible mistake”. Temos que fazer escolhas, não é mesmo? E eu não estava em mim para poder tomar decisões sábias. Anyway, a noite havia sido muito boa.
E minha cabeça funcionava em francês, ingles e espanhol. E talvez 2 porcento em português. À noite, sempre estava bem cansada pelo esforço mental e pelo frio. No dia seguinte, bem, Alexis havia me convidado para um jantar em sua casa. Provavelmente, eu ainda estava com ele pois, não havia tempo para pensar em dizer sim ou dizer não. E no momento, ele era um belo escape. Chovia muito em Paris, fazia muito frio e eu ficava com muita preguiça de tentar o novo. O novo estava velho e guardado.
uau, ñ sabia q era possível virar palavras certos pensamentos tão abstratos...com suas palavras,estive 15 min em paris... _ inspirante.
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